O Dia Internacional da Mulher é uma data fundamental para refletirmos sobre a trajetória das mulheres na sociedade. Na Noruega, um país frequentemente citado como exemplo de igualdade de gênero, a luta feminina percorreu séculos. Mas será que a igualdade foi plenamente alcançada? Nesse artigo vamos explorar a história, os desafios e as conquistas das mulheres norueguesas ao longo do tempo.
As pessoas celebram o Dia da Mulher desde 1909, e a Noruega adotou oficialmente a data em 1948. No entanto, o Sindicato das Mulheres do Partido Trabalhista marcou o Dia da Mulher pela primeira vez no país em 1915, durante uma reunião pela paz. Em 1921, o Partido Trabalhista assumiu a organização das comemorações, que desapareceram em 1929 e só reapareceram durante a Segunda Guerra Mundial. (Fonte: snl)
Durante a ocupação nazista na Noruega, muitas mulheres participaram ativamente do movimento de resistência e foram enviadas para campos de concentração. Mesmo sob repressão, muitas encontravam formas de marcar o Dia da Mulher em segredo. Vale a pena lembrar que a data oficial internacionalmente reconhecida foi estabelecida pela ONU somente em 1977.

A conquista do direito ao voto e participação política
Quando a Noruega conquistou sua independência e adotou sua própria constituição em 1814, a sociedade negava às mulheres os mesmos direitos dos homens. Na época, os homens ocupavam a posição de chefes de família, enquanto as mulheres dependiam financeiramente de seus pais ou maridos.
No entanto, a partir de meados do século XIX, o movimento feminista começou a ganhar força, conquistando avanços significativos para as mulheres. Um dos primeiros marcos foi em 1839, quando mulheres solteiras e viúvas com mais de 40 anos passaram a poder exercer algumas profissões. Em 1894, mulheres casadas obtiveram o direito de comercializar e administrar seus próprios negócios.
A participação feminina na política cresceu ao longo do século XX. Em 1922, as mulheres passaram a poder ocupar o cargo de primeira-ministra. Já em 1938, elas conquistaram o direito de ocupar qualquer cargo público, embora os cargos religiosos ainda exigissem aprovação da igreja.
A Era das Donas de Casa e a Revolução Feminina na Noruega
Após a Segunda Guerra Mundial, a Noruega entrou em um período conhecido como a “Era das Donas de Casa”. Durante as décadas de 1950 e 1960, a maioria das mulheres se dedicava exclusivamente à família, enquanto os homens eram os principais provedores. No entanto, essa realidade começou a mudar nos anos 1970, quando uma nova onda do movimento feminista exigiu igualdade de direitos, incluindo acesso ao mercado de trabalho, creches para crianças, igualdade salarial e liberdade reprodutiva.
Foi nesse contexto que, em 1978, a “Lei da Igualdade de Gênero” foi aprovada. Essa lei proibiu a discriminação de gênero no mercado de trabalho e garantiu que homens e mulheres tivessem os mesmos direitos e oportunidades.

Como são as mulheres norueguesas?
Quando cheguei à Noruega, ouvi diversos estereótipos sobre as mulheres norueguesas e, curiosamente, muitos deles vinham de brasileiras que detestam as generalizações feitas sobre elas mesmas. Isso me fez refletir: por que julgamos tão rapidamente outras mulheres?
Muitas pessoas descrevem as norueguesas como “mandonas” e “independentes demais”. Mas será que essa visão negativa não reflete, na verdade, uma crítica ao fato de que elas vivem em um país onde o feminismo sempre teve um papel central? Se rejeitamos rótulos sobre nós mesmas, talvez seja o momento de questionarmos nossos próprios preconceitos sobre como uma mulher deve ser. Afinal, mulheres devem se apoiar, não se julgar.
Na Noruega, a sociedade não impõe papéis tradicionais às mulheres. Elas assumem diferentes caminhos na vida, sem a obrigação de serem mães em tempo integral, pois compartilham a criação dos filhos com os pais. Muitas optam por não comparecer a todas as reuniões escolares ou por dividir as responsabilidades domésticas com seus parceiros. Mais do que isso, elas buscam sua independência financeira, sem precisar abrir mão de sua autonomia para depender de um marido. Essas conquistas não surgiram por acaso, já que gerações de mulheres lutaram para garantir essa igualdade. Eu conto um pouco disso em um post com meu ponto de vista.
As norueguesas são, acima de tudo, mulheres com histórias e desafios próprios. Elas amam, trabalham, cuidam dos filhos, enfrentam dificuldades e, assim como qualquer outra mulher, têm seus momentos de fraqueza e superação. A grande diferença é que herdaram direitos que suas antepassadas nunca tiveram, o que as tornou mais seguras e determinadas a não aceitar retrocessos.
Portanto, o estereótipo da mulher “mandona” não passa de um reflexo do incômodo que algumas pessoas sentem diante de mulheres que sabem o que querem e não se calam diante de injustiças. E, se há algo que deveríamos aprender com elas, é que lutar pelos próprios direitos não é um capricho, mas sim um caminho para uma sociedade mais justa para todas.
Desafios atuais: Por que as mulheres no Noruega ainda lutam?
Apesar dos avanços significativos, a Noruega ainda não alcançou completamente a igualdade de gênero. As últimas estatísticas mostram a Noruega em quarto lugar no ranking mundial “de melhor lugar do mundo para mulheres” (o que pode variar dependendo do ano), o que talvez servisse para pensarmos que os protestos das ultimas décadas foram o suficiente para assegurar a mulheres do país tudo que necessitam.
De acordo com estatísticas recentes, as mulheres norueguesas continuam ganhando menos do que os homens, recebendo em média 85-87% do salário masculino para funções semelhantes. Além disso, há uma forte segregação ocupacional, com a maioria das mulheres empregadas nos setores de educação e saúde, enquanto os homens dominam as áreas de tecnologia, engenharia e indústria.
Outro ponto importante é a luta contra o assédio e a violência de gênero. Mesmo em um país com leis rígidas, muitas mulheres ainda enfrentam desafios no ambiente de trabalho e na sociedade. Por isso as mulheres norueguesas e muitos homens também todo dia 08 de março participam de manifestações por seus direitos e pelo direito de mulheres pelo mundo.
Conclusão
A Noruega é um dos países mais avançados do mundo em igualdade de gênero, mas isso não significa que a luta tenha acabado. As mulheres norueguesas continuam reivindicando direitos e buscando melhorias para sua posição na sociedade. A história mostra que cada conquista foi resultado de décadas de mobilização e resistência.
Portanto, no Dia Internacional da Mulher, celebramos não apenas as conquistas, mas também reforçamos a importância de continuar lutando por um futuro mais justo para todas. Feliz dia pra vocês que entenderam que a luta continua.
E pra quem quer ir ainda mais longe na história, chequem esse artigo sobre as mulheres nórdicas na Era viking.
Fontes principais: snl/ norgeshistorie/ Statistisk sentralbyrå / nrk